Fico me perguntando a cada momento, se o que estou passando hoje é justo. Pode até haver dedo de alguma força divina pra tudo isso, mas porque comigo?
Já tentei de todas as formas possíveis esquecer o que ocorreu comigo, ou tirar forças para uma mudança positiva com relação ao meu trauma, mas hoje não é o meu tempo ainda.
Quanta dor que estou sentindo, nenhuma fratura, nenhum corte mais profundo, ira diminuir essa dor no peito, esse estranho ódio que me consome, e de todas as lembranças, as únicas que fixa em minha mente, foi do tempo que eu era feliz.
Lembro dos meus momentos quando criança, o dia se tornava perfeito quando toda família reunia para o almoço no final de semana. Meus primos tinham poucos anos de diferença, por isso a festa se tornava completa. Cresci como toda criança normal no padrão social das pessoas, corria, brincava, pulava sobia nas árvores, estabelecia um vinculo regular com as outras crianças, mas o que eu mais gostava era de ficar com os adultos, me sentia mais a vontade perto deles. Minha mãe ou outro adulto por perto, sempre mandava sair de perto e correr com as outras crianças. Era uma situação difícil pra mim, porque eu não me encaixava com o grupo de meninos.
Aos meus 7 ou 8 anos de idade comecei a sofrer os primeiros sinais de preconceito, eu tinha a voz um pouco fina, e adorava falar de novela e assuntos femininos com as meninas. Achava sem nexo todas aquelas brincadeiras feitas pelos garotos, ficava com um pouco de nojo de manter contato com eles, eles corriam muito, transpiravam bastante, falavam palavras agressivas, e aquilo tudo era horrível aos meus olhos. Por ser dessa maneira comecei a ter os primeiros apelidos, “viadinho, borboleta, bichinha, boiola” entre outros, que não consigo me recordar agora.
Fase difícil mesmo foi dos meus 12 até os 15, quanto mais crescido, maior o número de ofensas... Chegando nessa idade até agressão física eu recebia. Sempre tive o conceito de boa vizinhança, nunca fiz com os outros o que eu não gostaria que fizesse comigo mesmo, mas 90% das pessoas não pensam assim, e por não pensarem, sofri os piores anos da minha vida! A televisão foi um meio bem apelativo pra isso, todo protagonista gay de alguma série de humor, era batizado sobre mim, tentava não ligar muito, pois meu tipo físico não aceitava nenhum tipo de defesa, por isso na maioria das vezes permanecia calado.
Quando eu levei aquela surra no meio da rua, fiquei perguntando a nossa força divina, o porquê eu ter nascido daquele jeito... Caramba eu tinha apanhado de mulher! Estava eu, voltando tranquilamente do colégio, quando o grupo de jogadoras do meu colégio, começou a me ofender... Umas me chamavam de bicha, outras de boiolinha, e uma até ousou dizer, que eu adorava enfiar um pau bem grosso no meu cú! Aquilo foi o fim pra mim, minha cota já havia esgotado, mandei imediatamente aquela ruiva sem vergonha calar a boca. Daí começou o show de pontapé e socos... Lembro que uma até rebentou a sandália de tanto me chutar.
Cheguei em casa envergonhado, diminui o máximo que tinha acontecido comigo, para minha mãe não desconfiar da minha sexualidade, preconceito fora de casa, daí tudo bem... Mas dentro, e minha própria mãe? Não aguentaria!
As vezes eu ficava horas no banheiro, pegava o batom da minha mãe, e ficava passando bem devagar na minha boca, lembro que ela tinha algumas meias cumpridas, pegava o barbeador do meu padrasto, me depilava, e depois as colocava. Me sentia a vontade com aquilo, estranho... Mas bem à vontade.
Já era sexta, aquela mesma ansiedade de sempre aparecia, naquele tempo eu queria desvendar o porque eu estava sentindo aquilo, era apenas o meu pai vindo me buscar, de novo mais um fim de semana feliz, e divertido ao lado do meu pai. Ele me levava para a casa dele, às vezes de moto, outras de carro, no meio do caminho aquela adrenalina me consumia, ficava imaginando... E quando chegar lá? Como é que vai ser? Mas toda vez era uma grande surpresa...
Desde de muito pequeno eu me sentia diferente dos outros meninos, quando eu era bem novinho, imaginava um lindo homem vindo me buscar a cavalo, na maioria das vezes eram galãs desses filmes de herói, ficava imaginando o dia que um belíssimo homem iria me colocar em seus braços, e me levar pra longe dali.
Em reuniões de família, por muitas vezes o assunto era homossexualismo, minha família bem conservadora, sempre dizia que o homem foi feito apenas para mulher, outros sempre comentavam que era algo desprezível, e que ambos iriam diretamente para o inferno. Isso me doía bastante, e me dói até hoje. Eu não quero ir pro inferno!
Em 2007 foi o ano que eu comecei a ter um contato com a internet, foi nesse ano que eu fiz o meu cadastro nas primeiras redes sociais, comecei a conhecer novas pessoas, e com isso ter um contato direto com pessoas como “eu”. Entrei em comunidades GLS, participei de chats, e com isso minha lista de contatos só foi aumentando.
Toda mãe é curiosa, sempre se preocupam com o que o filho esta mexendo, com a minha mãe não foi tão diferente. Em uma sorte do destino, ela encontrou minha página de email aberta, e viu os tipos de conversa que eu estava tendo, e foi logo me colocando contra a parede, querendo explicação daquilo... Isso durou por muitos dias...
Sexta feira, mais um dia de discussão, 14:30 minha querida mãe ousou dizer, que preferia ter um filho morto, que um filho homossexual! Aquilo foi tão doloroso pra mim, confesso que por alguns instantes, me faltou o ar, queria chamar aquela mulher de todos os nomes possíveis, mas minha forma de vingança foi bem pior. Em um momento de dor, acabei falando que não era minha culpa ser daquele jeito, que o único culpado era meu pai, que me abusava sexualmente desde os meus 3 anos de idade!
Minha mãe separou dele quando eu tinha apenas 3 anos de idade, o motivo da separação foi porque ele a batia muito... ”Agradeço todos os dias de minha por ele ter batido”.
Ele bem que tentou tirar minha guarda, mas o grandioso juiz disse não, mas infelizmente por ordem da lei, permitiram que aquele verme me levasse todos os finais de semana para passar na casa dele.
No começo ele vinha com a desculpa de fimose, depois se tornou algo divino, saudável e normal aos olhos de Deus... É meu caro leitor, na cabeça desse retardado sexo entre pai e filho era algo normal e divino!
Toda vez que eu mantinha relação sexual com ele, ficava pensando apenas na minha madrasta, como eu poderia estar traindo ela, na própria casa dela? Eu era o amante da vez, cresci com isso na cabeça, era o outro, a diversão, nunca tive imagem dele como um pai, tanto que toda vez que o chamava de pai, algo me corroia por dentro, tremia só de mencionar a palavra “pai”.
O tempo foi passando, e finalmente à mídia me ajudou em alguma coisa... Aquelas reportagens sensacionalista de como o sexo entre pai e filho era algo hediondo, acabou aos poucos abrindo meus olhos e me torturando profundamente.
Entrava no banheiro, ficava me olhando no espelho, meus olhos miravam apenas a minha boca... Que boca suja que eu tinha, pegava o sabão, a bucha, e ficava esfregando com toda minha força, para tentar tirar aquele gosto horrível que aquele homem tinha colocado na minha boca.
Meu corpo? Nem o diabo o quer... Esta mais passado e usado do que qualquer outro garoto de aluguel, também foi muitos anos de uso... Minha primeira masturbação foi aos 3 anos, confesso que estou sendo vulgar, mas realista!
É... Realidade, eis aqui uma pequena parte da vida de um desconhecido, que hoje em dia se corta, e não se aceita, enquanto o desgraçado que fez isso comigo, esta por ai, gozando sua vida.
Mas hoje eu to deprimido, confesso que estou pra baixo... Rodando pelos cantos da casa, tentando encontrar uma saída... Forma mais fácil e eficaz é fazendo justiça, e escrever esse texto, poder mostrar minha dor, para você que esta do outro lado, saiba muito bem até onde pode chegar o seu medo e sua vergonha de denunciar!
Vamos quebrar o silêncio, não os deixem nos abusar eternamente, pois da linha mais clichê e possível de se dizer... No nosso caso, a única solução de ter uma vida feliz é fazendo justiça!
Disque 100 para o abuso infantil